Quem disse que a vida é oscilação eterna
Entre o sofrimento e o tédio?
Como te atreves a perturbar o sagrado repouso do nada
Para criar este mundo de aflição e agonia? Quem disse?
A volúpia é bestial e a bestialidade é circunspecta,
Ávida, não conta piadas durante a demente ação.
A verdadeira meta da vida clama por um fim do cansaço,
Isso vemos nos rostos descansado dos mortos
Entre as rosas e glicínias que ornamentam sua palidez.
Para todos o presente é água escapando pelos dedos,
O passado, uma lembrança trêmula e oscilante,
O futuro, imprecisão, dúvida e temeridade.
Esse curto sonho da vida,
Enfeitado de flores e lágrimas incessantes
É fugaz comparado ao prolongado sono da matéria
Para onde caminha todo pó que se desfaz, inerte, sem pranto.
O casulo que renasce na primavera em meio à festa e à alegria
É semelhante ao homem que desperta numa manhã de verão.
Mas tudo é passageiro, não convém ligar-se por afetos,
Eterno mesmo só Shiva e o colar de cabeças mortas
Sua mão ostentando o lingam que replica amor e juventude,
Por quem, ilusoriamente, se lançam em uma terra de espinhos,
Num mar sujo de sargaços sobre pontas de corais vermelhos.
