Como testei, sem querer, a paciência de um santo catalão

Iniciei estudos num seminário de padres em Goiânia em 1974

E tinha muitas saudades de meus pais e irmãos

Que ficavam a mil e duzentos quilômetros de distância de mim,

Em São Félix, no estado de Mato Grosso.

Saudades e añoranzas.

Não havia telefone, não havia correios nem bancos por lá.

Nos meses chuvosos, às vezes, o acesso por terra era interditado.

Minha mãe me mandava algum dinheiro

E outras coisas pelos padres espanhóis de São Félix, que iam e vinham.

Um dia me avisaram para ir buscar encomendas de minha mãe.

O próprio bispo, Dom Pedro Casaldáliga, catalão, me trouxera a encomenda.

Entregou-me o pacote, muito alegre e simpático como sempre era.

Aparentemente esperava que eu fosse embora logo.

Estava lendo, com muito Interesse, um livro intitulado Francisco Franco – Biografia,

Recentemente publicado.

Eu, porém, lleño de añoranzas, continuava sentado à sua frente.

Ele voltava a ler. Eu perguntava alguma coisa.

Ele interrompia a leitura sem demonstrar impaciência, respondia.

E após responder, ele dizia: Fique tranquilo, filho, sua mãezinha está bem,

com muita saudade, mas está bem. Tudo bem lá com todos.

 

Eu tinha então quatorze anos.

A juventude e a saudade me impediam de perceber a inconveniência.

Sua magnífica generosidade e educação o impediam de dizer:

Agora vá, filho, quero ler. Tenho muito o que fazer.

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