Quando pequenos temos medo dos mortos.
Isso porque os mortos, quando somos pequenos,
São os estranhos, são os outros, os distantes.
À medida que envelhecemos vamos perdendo o medo dos mortos.
Os mortos então vão se tornando, pouco a pouco,
Os nossos seres mais amados, nossa avó, nosso avô, nossa mãe,
Um irmão, um amigo querido.
Amarrados em pacotes de cetim, com flores,
Nossos mortos desaparecem com todos os louvores
Carregam consigo os momentos mais suaves,
Nossas confidências mútuas, nossas ternuras,
Nossos mortos carregam as doçuras,
E os vivos, lentamente, se tornam os estranhos.
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