Dedicado a todos os suicidas. Aos que não suportaram
Não tenha dúvida, desde que você nasceu, ou foi criado, ou apareceu
Como uma moedinha jogada pelo vidente ou os dados lançados pelo aventureiro
Tão cheio de doçuras e, às vezes, de amarguras, você ocupou uma lacuna, preencheu um
Espaço. Um espaço humilde, mas um espaço repleto de afetos.
Há pessoas que olham você com carinho, como seus pais, por exemplo.
Tão acostumados a observar seu sorriso, ou você a dormir, ou a reclamar da comida.
Os amigos, mesmo poucos, que você foi juntando pelos caminhos
Também gostam da sua presença. Não porque você seja belo,
Tenha formoso e desejável corpo, porque você não tem.
E isso não é o mais importante, como vulgarmente se pensa.
Todos sabem que sofreu por amor. Amou e não foi amado
Passou muito tempo retraído, lambendo feridas, e nós, seus amigos, não podíamos ajudar
Pois as coisas do coração só o dono administra, regula e avança e recua
Os afetos são cavaleiros airosos que combatem com espadas e rosas
São também, entretanto, bárbaros e inclementes quando acertam de cheio o peito frágil.
Se não deu, volta, não entre em desespero. Volta para suas tarefas ao nosso lado,
Que lhe queremos, que estamos acostumados com sua figura pálida, presente.
Não vá embora, aguente até o fim, não nos deixe com esse vácuo
Ocupado por sua efígie querida, seus diletos predicados, sua aparição
Cuja falta choraremos cada instante, em vão.