Se todos em volta seguram um drink e às vezes saúdam outros que chegam
E você, no centro da roda, no meio de aconchegante alameda, acompanhada
Por comedido contrabaixo ou estridente violino canta Ces Petits Riens.
Já é noite. Sua voz é bonita, embora você seja um pouquinho gaiata.
Você não tem aquela gravidade esperada para quem canta uma canção melancólica
Como a cantora que, ao lado, canta Autumn Leaves, também seguida de contrabaixos
E violinos tristes, como se ajusta bem a uma canção triste,
Uma canção que diz: Mais la vie sépare ceux qui s’aiment.
As luzes começam a piscar no crepúsculo e as pessoas que bebem já veem Diamantes,
Corações e flores faiscantes,
Embalados agora por mais uma cantora triste que canta
Besame Mucho na esquina, a mais linda canção de volúpia e adeus
E desperta em seu peito imensa vontade de ser feliz, ganas de um desfecho feliz.
Porém não se deixe iludir demasiadamente, pense naqueles pequenos navios
Que partem de um longínquo porto tomando o rumo de outro longínquo porto
E enfrentam tantos perigos no mar enganoso. Às vezes nunca chegam,
Às vezes por um impedimento casual se perdem
Ou são obrigados a voltar ao porto de origem.
Quem esperava com ansiedade a sua chegada, muitas vezes desiste,
Com lágrimas nos olhos, dando uma última olhadela no horizonte distante do mar.
Outros, antes de partir do cais ainda passam no pequeno bar
E tomam um drink qualquer. Continuam a espreitar o horizonte, ansiosos,
Até que finalmente também desistem e acreditam que o destino quis assim.
Entretanto, não podemos de todo matar a ilusão com tanto pessimismo.
Pode acontecer sim, que alguém no porto longínquo persista acreditando,
Alguém que diga, com voz doce, terna: eu vou esperar por você todas as tardes.
Alguém que diga: Eu me recordo daqueles dias felizes quando nos amávamos.
Como dizem os versos tristes dessa canção triste.