A Mais Sublime Função da Poesia

Qual seria a mais sublime função da poesia

Além de instigar a paixão nos enamorados,

Falar das serenatas e dos arroubos loucos

Que o amor produz na alma arrebatada e crédula dos jovens?

Ah, a poesia recolhe os pedaços esquecidos de uma vida

Aquela quinquilharia que ficou presa na margem do rio

E a corrente pelejou por levar, mas que se apegou

Em algum ramo da margem e teima em voltar, em persistir

Tanto tempo depois,

Resiste em descer ao mar do esquecimento,

Onde todas as vidas costumam chegar!

Aqueles momentos doces quando a mãe embala o bebê,

Os olhos ternos guardando a imagem do rosto querido,

A poesia imprimirá na memória e tornará indelével.

Os reis que morrem, de vez em quando renascem,

No coração dos poetas, diz o bardo.

Os reis que morrem ou que ficaram esquecidos

Em algum escaninho do passado, em caixas de papelão

Em uma lata de lixo e detritos,

Incapazes que fomos de agarrá-los e protegê-los,

Naquele momento longínquo já findado,

Quando éramos uma sombra errante, precária e quase cega.

A poesia traz de volta os nossos pequenos e amados reis,

Aqueles mínimos retalhos, insignificantes, de dias obscuros,

Com mão firme e obstinada de mãe extremosa,

Os mostra de novo à vida, à luz,

Como a rosa rúbida que desabrocha, luminosa, ao meio-dia,

Ao som de bandas e fanfarras que a saúdam.

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