Uma cabeça de Hermes

Encontraram em Atenas uma cabeça de Hermes,

De alabastro translúcido, perto do Licabetos, numa escavação comum, de construção civil.

Um Hermes Trimegisto.

Muito branca, talvez pelas inúmeras vezes em que, amorosamente,

Foi untada de aloés e nardo.

Hermes sorri levemente.

Ele que, um dia, muitos pedidos ouviu, muitas súplicas e prantos.

Sabia o que os nigromantes indagavam aos mortos,

O que os etruscos buscavam nas runas,

Os africanos nos búzios e pedrinhas do mar e os de Dodona no enorme carvalho.

Homens e mulheres confidenciavam a Hermes incontáveis sonhos e esperanças,

Consultavam os oráculos, os auspícios e pediam e rogavam.

Hermes, polidamente, sorria.

Hoje, após tudo findado e os séculos passados,

Nós sabemos porque Hermes sorria esse sorriso triste, contido,

Quase melancólico mesmo.

Ele já conhecia, então, o resultado final de tantos desejos,

O desfecho de tantas aflições e desesperos.

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