Retorno a Belo Horizonte

Voltei a Belo Horizonte.

Ali passei quatro anos da minha juventude muitas décadas atrás.

Onde aprendi os segredos da lascívia discreta e das noites de amor.

Hospedei-me num daqueles hotéis antigos, decadentes, no início da Avenida Amazonas

Ou Rua Caetés. Na Praça da Estação.

Daqueles que têm azulejos antigos nos banheiros, com print de cachos de lírio rosa com

Raminhos verdes.

Alguns são inteiramente azuis, com flores de gardênia azul.

Abri os ferrolhos da janela antiga, com parte de madeira e parte de cristal,

Como era o luxo e o glamour de antigamente.

E respirei o ar de Belo Horizonte. O ar mais famoso do Brasil.

Para onde outrora vinham, de todo o país, os endinheirados com tuberculose.

Porque os médicos receitavam o ar das montanhas de Minas

Para curar os pulmões tísicos dos doentes.

 

Daqui também vejo a Rua da Bahia. Ah!

Naquela noite em que o vi, com sua turma, xavecando as putas na rua da Bahia.

Guardo sua imagem há tantos anos como uma iluminura rútila na madrugada.

Vestido na farda do 12º BI, jovem e garboso,

No auge da beleza e da masculinidade. Todo o seu porte e andar era masculinidade.

Era um negro, como só em Minas tem, rústico e terrivelmente belo.

Com um olhar claramente libidinoso. Olhar que nunca me viu nem se dirigiu à minha figura.

Mas eu tive a glória de contemplar sua epifania

E guardá-la para sempre em minha memória.

 

Agora tudo ali virou uma região de lazer noturno com batucadas de samba

E sonâmbulos que circulam bêbados procurando amantes.

Tudo igual ao que fazíamos décadas atrás, nessas mesmas ruas tão queridas.

Como a lascívia tem murmúrios, gritos e barulhos!

É quando os seres se debatem com ansiedade em grande esperança.

Esperança de se tornarem amados e felizes.

Uma moça se agacha atrás de um poste e mija na avenida

Olha para cima e me vê na janela. Sorri, desajeitada, e gesticula para mim

Evidentemente bêbada.

Não retribuo com gestos, apenas sorrio.

Está pagando os micos e o delicioso preço da juventude.

A juventude que atravessa noites, alvoradas e o sol pálido da manhã

Em busca de paixões incertas.

Vários grupos de rapazes caminham devagar em direção à Rua Guaicurus.

E todos sabem o que representa para o amor a Rua Guaicurus em Belo Horizonte.

Todos sabem também o que representam as auroras coloridas para o amor.

Fecho a janela e aceno à Belo Horizonte que amanhece, me despeço melancólico

Dessa cidade amada,

Olho com carinho os prédios, os telhados, as árvores.

O casario de Santa Efigênia e da Floresta.

Porque nunca se sabe se já é a última vez,

Nunca se sabe se já é a hora definitiva do adeus.

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