O Rochedo

Quando eu era jovem, há cem milhões de anos ou um pouco mais

As árvores me vestiam com um manto verde e flores

Me cobriam como um mar multicor de mil arco-íris.

Veio a chuva, veio o vento, veio a areia no vento

Os raios e o som dos trovões que me deixavam tonto.

Vieram aves que se aninhavam em mim como em mãe segura e amorosa.

Animais corriam sobre minha tez abrindo caminhos indeléveis

E espreitavam o mar próximo, de brisa salina, maresia e ondas que vinham e partiam.

Eu permanecia imóvel, hirto, apenas atento aos movimentos nos séculos

Que passavam como passam as revoadas de andorinhas sobrevoando as águas.

No entanto, até nós, as rochas, definhamos.

Somente os diamantes logram uma têmpera firme. Bem como adquirem

O esplendor de astros e, presumidos, pensam que são eternos.

Os diamantes, porém, podem despedaçar-se como sonhos tristes

E findar-se também.

Nós definhamos enquanto presenciamos a agonia breve dos mortais

Em suas exíguas vidas, pequenas tragédias de decadência e morte que duram tão pouco.

Nós definhamos também como os mortais, só que muito lentamente.

Ante nós, como num filme em slow motion, vemos gerações de jovens e velhos que passam,

Alguns em transitória alegria outros em inconsolável amargura.

Mas não revelamos emoções ou comiserações. Apenas testemunhamos.

Imóveis, gélidos, impassíveis, sem lágrimas.

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