Naquele ano o pardal teve quatro lindos filhinhos,
Amava-os tanto! Preocupava-se com o futuro deles,
Nesse mundo aventureiro e perigoso,
Meninos inocentes e facilmente vulneráveis.
Não deixava que nada lhes faltasse,
Para que não pulassem fora do aconchegante e protegido ninho
Que preparara cuidadosamente no fim do gelado inverno,
Quase no início da primavera.
Oh, mas no meio do verão,
Enquanto trabalhava e buscava nutritiva refeição,
Nos bosques de ramagens novas,
Onde pululavam lagartinhas,
Besouros suculentos e joaninhas furta-cores,
Ao voltar à casa não os encontrou. Pensou logo no pior.
Chorou desconsoladamente, tinha mau pressentimento,
Sentia que a vida lhe apunhalara, logo ele,
O mais simplório e modesto,
Que habitava qualquer humilde ponta de telhado,
Tão honesto e laborioso, amigável com todos.
Suspeitou que teria um infarto.
Os compadecidos vizinhos vieram lhe contar
Que as crianças acompanharam um grupo de boêmios
Para gozar o verão e a mata agora verde e enflorada.
O velho pardal recolheu-se em seu lar a chorar todo o verão.
Já no início do outono ouviu grande algazarra de pardais
No campo de trigo agora amarelo e bem dourado.
Correu. Tinha esperanças. Sim, seus meninos estavam todos lá.
Levou-os carinhosamente para casa.
Meus filhos, quase enlouqueci.
Vocês partiram sem que eu pudesse ensinar-lhes as defesas
Diante das agonias do mundo, tão desamparados!
Perguntou ao mais velho, por onde andou, filho,
Que comidas comeu, pobrezinho?
Andei pelos jardins, meu pai,
Comi muitas lagartinhas e pequenos vermes
Na horta de um rico mercador.
Mas lá queriam me pegar com uma vara oca de buraco verde.
Fuja, não confie jamais em comerciantes e mascates, filho.
Dirigiu-se então ao segundo bebê,
Onde esteve e de onde tirou o seu sustento, filho amado?
Estive na corte, meu pai, entre altos oficiais e cortesões.
Os paços não são lugares para humildes pássaros, criança,
Lá é o lugar do ouro, do veludo, do marfim, dos galardões,
Dos falcões, poderosas águias e milhafres velozes,
Deverias ter ficado próximo dos estábulos
E comido os farelos e grãos que caíam das cocheiras.
Sim, também lá estive, mas os peões armavam arapucas
E preparavam traições para me pegar.
Também nos vaqueiros e peões não podemos confiar, diz o pai.
Perguntou ao terceiro rebento, emocionado,
De novo em lágrimas pensando nos perigos,
E você, meu lindo e educado menino, onde esteve,
Sem que eu antes tenha lhe ensinado a arte da sobrevivência?
Ah, querido pai, eu fiquei nas margens das estradas,
Catando os cereais que caíam das carroças, os flocos de aveia,
Fiquei também perto de uma mina
E comi farelo do pão que caía do prato dos mineiros.
Mas eles me jogavam pedras.
Oh, que horror, que grandes perigos, meu neném querido!
Nos mineiros não se deve confiar.
Por último perguntou ao menor de seus bebês diletos,
Por ande andou e o que sofreu, meu pequeno benjamin?
Durante todo o verão só pensei em você,
O mais fraco, mais inexperiente e indefeso dos meus recém-nascidos,
Como sobreviveu, meu coração,
Com tantos gaviões, carcarás e corujas noturnas carniceiras?
Querido pai, me recolhi a uma enorme catedral,
E comi as migalhas que caíam dos farnéis dos peregrinos,
E ouvia com atenção os sermões das liturgias e as homilias.
Amado anjo, me regozijo que superou os perigos do verão,
Sozinho, sem o apoio do papai, tão longe do lar.
Mas devo aconselhar: também nos curas não se pode confiar.
Grimms Märchen – Der Sperling und seine vier Kinder – Jacob e Wilhelm Grimm