Naciketas

Esta linda fábula sobre a Vida e a Morte está no Mahabharata e nas Upanishads.

 

Yama, com remorso por ter negligenciado o seu hóspede,

Descumprindo as sagradas regras do Dharma,

Prometeu a Naciketas satisfazer-lhe três desejos.

Nos dois primeiros, Naciketas solicitou coisas banais.

Quanto ao terceiro e último desejo,

Quis saber de Yama o que surge na vida após seu final,

Quais sonhos e quais venturas são reservados aos mortos.

Yama implorou para Naciketas mudar seu desejo

E refrear sua curiosidade.

Naciketas poderia pedir filhos e netos que vivessem cem anos,

Rebanhos, elefantes, cavalos e ouro,

Diamantes que brilham como estrelas em todo esplendor,

Numerosas virgens em carruagens celestiais ao seu dispor,

Acompanhadas do sereno canto dos Gandharvas e acordes de Vina.

Naciketas respondeu a Yama:

Transitórias são estas coisas e elas se gastam”.

Naciketas não declinou de saber

O que se passa ao homem quando fecha os olhos

E lhe acomete o sono que será eterno.

Cruzará ele por regiões inóspitas de dor?

Poderá ele novamente retornar às suaves alegrias de outrora?

Às doces brincadeiras?

Ouvirá novamente as vozes tão amáveis,

Que ouvia no início de sua vida,

Quando tudo era uma aurora florida, ouvirá novamente?

Ou voltará para sempre ao taciturno pó, na solidão?

Yama não quis responder.

Naciketas insistiu e finalmente Yama respondeu:

Inúteis são os unguentos odoríficos deitados sobre os corpos dos mortos,

Inútil é o Kesari, a cânfora, o nardo.

Desnecessários o Kajal e o pó de Sindur vermelho, a pasta de açafrão.

Inúteis são os tecidos ricos e magníficos, os Sáris de seda, o linho de Kashi.

Por que vestir o corpo morto com Mani Chira de pérolas ou lãs de Gandhara

Ou Cachemira dignas de Parvati e Lakshmi?

Basta um Dhoti ou um Sári de algodão Khadi.

Por que espalhar madeira preciosa sobre o corpo inanimado,

Dilapidar o magnífico sândalo branco com coisa tão trivial?

Agni transformará em instantes tudo em cinzas,

Que tornarão como borralho encardido à poeira da terra.

O Atman, entretanto, a alma, em volutas olentes

Do mais cheiroso Ittar de rosas ou do fino Kadamba

Retornará, se mereceu por suas ações, se serviu às criaturas de Brahman,

Imediatamente ao seio do próprio Brahman,

Ao seio amoroso de Rama. Nada mais precisa ser dito.

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