Manto, a filha de Tirésias, sibila, diz:
Eu amo este, que busca o impossível,
Arrojado, estudioso das ciências e técnicas,
Um vulto que se mantém acima de todos os demais,
Manipula e brinca com o sentimento dos cândidos e inocentes
E adquire a aura de eterno vencedor e soberano.
Quíron, o prudente e sábio pedagogo, porém, diz:
Mortal, sem riquezas, sem arte,
Sem patrono, aquieta-te.
Busca uma choupana em um pequeno sítio,
Planta arroz, pés de manga, goiabas, bananas.
Arruma um parceiro fiel, um amor
-Mas não te fies em beleza-
As tempestades vêm, as secas,
A dor de andar pelo deserto estéril
E vocês dois estarão ali, parados,
Resistindo, sem emoções tremendas,
Sem penetrar em arroubos espantosos.
Sem cometer nem aceitar injustiças.
Não busquem o impossível nos mares agitados,
Nem busquem a supremacia na erudição e na tecnologia,
mas na virtude e na benevolência.
Simplesmente ajudem um ao outro
Nesse grande perigo, nessa tribulação
Até a luz se apagar e chegar o instante derradeiro.
Conhecerão enfim a verdadeira glória.
Entenderão que viver é respeitar.
Viver é tratar amorosamente todas as existências,
Discretamente, sem loucas vaidades,
Quase silenciosamente.