Contrariando Baudelaire, o Poeta, Lola Montez, a Cocota irlandesa
Disse que se maquiar violentamente era um espetáculo nojento
E deixava o rosto inexpressivo, ensebado como o de uma múmia pintada.
Era chic.
Baudelaire pensava diferente, pintar-se seria um dever para a mulher
Que assim se tornava mágica e sobrenatural, pois é preciso que brilhe, que rebrilhe.
La femme é um ídolo, que deve dourar-se para ser adorada, disse.
Para Lola bastava umas gotas de patchuli e deitava-se com um príncipe,
Com artistas, com os formosos
E todos que apreciassem a beleza com uma dose de elegância.
O rei Ludwig da Baviera, verliebt, concedeu-lhe o título de Gräfin Marie von Landsfeld.
Whatever Lola wants Lola gets. Só se deu mal quando mostrou a periquita
na terra dos caipiras Ozzies. Teve de sair correndo, apressada,
Deixando para trás um rastro de L’Eau de la Reine. Foi-se para o Oeste.
Morreu em New York, a grande cidade do Norte,
Onde ninguém tem medo de periquitas nem de caralhos,
Essas coisas de odor sui generis
Deixadas aí, presentes semeados por Deus, em todas as partes do universo
Para regalo e deleite de todos, com uma música apassionata ao fundo, um Besame Mucho,
fumaças de charutos cubanos, duas taças de Piña Colada.