Juventude

Naqueles dias o calor fazia suar os poros,

A beleza encantava, os rostos apareciam, desapareciam,

Sumiam no ar como os querubins.  Piscavam.

O sol de outubro era quente, os dias de junho eram frios,

Cada rosto que surgia podia ser início de um amor,

Ou um idílio passageiro que às vezes se adiava.

Algumas árvores perdiam as folhas uma vez mais,

Ou amarelavam por causa da seca em agosto,

E as sombras desapareciam, como tinham chegado.

A princípio não nos interessávamos,

Não achávamos importante as imagens que iam, que vinham.

Não interessava se algumas pediam amor,

Apareciam aflitas, diziam adeus,

Não tínhamos tempo para dar a devida atenção,

Muitos até zombavam, cheios de vaidades,

Porque tudo se passava como numa tela,

Pensávamos que tudo seria interminável e se renovaria,

Bastaria reiniciar o aparelho, passar novo creme,

Tingir os pelos, fazer uma viagem distante,

Observando o colorido do filme, das paisagens,

Das múltiplas pessoas e seus vestuários e costumes.

Achamos que isso era um continuum interminável.

Foi engano. Tudo se foi rapidamente.

Não conseguimos agora que voltem, mesmo que imploremos,

Que peçamos perdão

E queiramos recomeçar o jogo com mais atenção.

Essas imagens da louca juventude não voltarão jamais

Vívidas e sensuais e palpáveis como eram.

Porque também nós passamos,

Já não somos reais, somos o fim, somos uma bolha colorida

Que subitamente estourou tão celeremente

Num momento inesperado e acidental

Que, em nossa arrogância e despreparo,

Não pudemos perceber.

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