Eu sei tudo sobre jovens. Sobre vidas.
Vejo eles sentados no bar, na mesa à minha frente, e penso: aquele gordinho
Vai virar um velho enorme. Aos dezenove anos já gordinho
Aos sessenta será um elefante.
Eu mesmo, que era um monte de pele e osso aos vinte,
Vejam agora como estou. É muito previsível.
Sei tudo sobre jovens.
Eles desviam o olhar de mim, no bar.
Tenho sessenta e dois anos. Nada em mim lhes interessa.
Talvez um cigarro, que me pedem, muito raramente.
Me esforço para que me olhem, de brincadeira, sem grandes esperanças,
Experiente e sem ilusões que sou a esta altura.
Mas não sou alvo de nenhum olhar. Nada. Para eles sou apenas uma mancha
Negra, risível, distante, apagada em seus campos visuais.
Me consolo porque sei o que lhes espera.
O mesmo caminho
A mesma alameda de heliotropos,
Penduricalhos coloridos à beira da estrada
E então a decadência iluminada do crepúsculo, a solidão, o fim.