Joselito cantando Granada

Eles sentam na mesa de pernas roliças, de madeira escura

Em frente à TV retrô onde viam os cantores.

Então chega o momento em que Joselito entoa Granada.

A vovó pede silêncio quando Joselito entoa Granada.

Todos ouvem em silêncio. É España embrujada.

A voz maravilhosa del ruiseñor sustenta as notas no final da canção

Num prolongado solo. Granada ao final requer intenso fôlego

E o cantante inspira fundo e expira longamente

Quando diz que Granada, a amada, a manola, é repleta de sol.

Pela janela vê-se as pontas de estandartes e um alarido

Álacre de gárrulos que festejam. Seria um carnaval para Joselito?

Ela pede silêncio, a vovó, mais uma vez, el ruiseñor empeza.

Porque agora Joselito inicia a cantar num momento de grande magia

Granada é ensangrentada y gitana, jugosa manzana de boca de grana.

Alguém filmou. Naquela casa, naquela pequena cidade, aquela família,

Todos ainda vivos e saudáveis, a gata Felpa e o cão Saturnino,

Todos vivos, e os vizinhos, ouviam embevecidos o cantor que cantava

E a vovó, talvez por saber mais que ninguém que tudo é tão frágil e finito,

Deixava escapar uma pequena lágrima,

Enquanto Joselito cantava erguendo graciosamente as mãos e o olhar

Espanha, de norte a sul, embevecida, chorava encantada.

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