Herr Wegener

Trabalhei em Münster no buffet de Herr Wegener, na beira do canal.

Ele era muito gordo, bonachão, alegre e ótimo Koch, cozinheiro profissional.

Herr Wegener me mandava despejar baldes de borra de café no canal.

Era proibido, por isso ele ficava espreitando de longe se não vinha polícia.

O buffet servia refeição para uma empresa vizinha.

Todos os dias, ao meio-dia, aparecia um senhor de macacão operário,

Com cara de quem sofria de hipotireoidismo desde pequeno, para buscar a comida.

Me olhava muito sério, quase raivoso, aparentemente julgava meu trabalho irregular, não sei.

Gritava Mahlzeit, que é como os alemães se cumprimentam ao meio-dia,

E todos nós, a família de Herr Wegener e eu respondíamos: Mahlzeit.

Herr Wegener tinha dois netos gordinhos e de bochechas muito vermelhas.

Quando cortei meu polegar direito nas afiadas facas de mesa do buffet,

Que eu lustrava periodicamente com um pó especial, saiu muito sangue.

Um dos netos, que acabara de chegar da escola, riu muito.

Herr Wegener gritou para ele, zangado: “cala essa tua boca”, “cala essa tua boca”.

Outra vez, enquanto almoçávamos, deixei saltar do prato um couve-de-bruxelas,

Um pouco desastradamente, por inabilidade ao cortá-lo com os talheres.

O outro neto também não se conteve e riu muito, sem parar, comentando alguma coisa.

Herr Wegener mais uma vez gritou: “cala essa tua boca”, “cala essa tua boca”.

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