Inermes

As faustosas festas, olhares inflamados de erotismo,

Tudo já ficou há muito tempo atrás.

O fátuo amor, a vaidosa elegância,

A seda, o tafetá brioso, ficaram no passado.

Agora é um lençol de veludo branco sobre a cama,

A falta de ar, que os enfermeiros chamam dispneia,

Inúmeras feridas nas áreas de contato, de decúbito,

Que os enfermeiros chamam de escaras.

Como já não fala, nem se mexe,

Ninguém pode entender a sua dor.

Apenas os olhos, às vezes ardentes

Talvez de desespero,

Parecem querer revelar algum desejo,

Fazer uma confidência ou um lamento.

Muitas pessoas e animais idosos

Estão, assim, inermes, por toda a terra,

Dizendo adeus à vida, dolorosamente.

Enquanto isso o mundo, esse

Como sempre alucinado, caminha, corre,

Deixando o rastro habitual de sua indiferença.

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