Fui muitas vezes à paróquia da Vila Operária, em Goiânia,
Buscar encomendas que minha mãe me enviava.
Padre Leopoldo Belmonte, um espanhol, era o vigário.
Dona Odília era sua secretária.
Um dia ela disse para ele:
Padre Leo, aquele senhor vai voltar amanhã. Quer negociar.
Padre Leo disse que não queria mais falar com ele. Não estava interessado.
Aquele homem é um louco, ele disse.
Dona Odília insistiu: Mas Padre Leo, ele é da Espanha!
Padre Leo respondeu: Tudo bem, Dona Odília,
En España también hay muchos locos!
Isto que ele falou foi impressionante.
Na Espanha também tem muitos loucos!
Dona Odília tinha um filho de dezessete anos.
Me contaram que tomava dinheiro de sua mãe
Para comprar calças jeans rasgadas.
Participava de malocas ou tribos de punks ou sei lá o que,
Diziam que até usava drogas.
Era um rapazinho magro, muito branco, feio.
Eu olhava para ele, às vezes, com o rabo dos olhos,
Com uma mescla de desprezo e medo.
Desculpa, Niño.
Eu tinha apenas quatorze anos,
Acabara de chegar na cidade grande,
Idiota, vindo de muito longe, do interior,
Não sabia nada da vida.