Os dentes limados, pontudos, que lá, em sua pátria, talvez, se entendia por beleza.
O sorriso largo, no início, como se estivesse entre irmãos.
Ota pensava que estava entre irmãos, entre iguais.
Exaltava-se ao contar seus costumes e os hábitos de sua terra,
Transbordava em gestos ao mostrar a extensão do milharal e a altura das mangueiras
A tropelia dos animais na savana, o urro dos leões e o guincho das hienas,
Quão céleres eram as águas volumosas do Congo em alguns trechos,
Como nadava, sem medo dos crocodilos.
Gabava-se de entender o malinque, o sango e o inglês, além de seu dialeto.
Com o tempo, Ota percebeu que ninguém estava interessado em ouvi-lo, ou dava algum valor.
Todos pareciam observá-lo como uma coisa exótica a grunhir
E se divertiam, olhavam-se entre eles, às gargalhadas, depois davam-lhe as costas,
Voltavam a seus afazeres e entretenimentos, cansavam de observar o clown.
Ninguém jamais dizia gonna miss you ao se despedir, como outrora.
Na África havia abraços calorosos dos irmãos, dos semelhantes,
Quando partia para uma pescaria ou caçada prolongada levando a azagaia.
Lágrimas de afeição, expressões de carinho e cumplicidade,
Apreço e admiração entre camaradas.
Esses afetos imprescindíveis a todo ser humano.
Resolveu voltar.
Mas não conseguiu.
Havia laços irremovíveis e correntes inquebrantáveis. Havia tristeza, muita tristeza.
Ota não suportou, desejou encantar-se, voltar mesmo que fosse como um tótem,
Um anjo sagrado que regressa à casa. Pegou a arma, firmou, executou.
Voltar como um anjo silencioso que passa
E abençoa a terra de África, a sopa de inhame, o milho no pilão, a fogueira a afastar as feras,
O tambor que ressoa saudando a linda estrela que reside agora para sempre
No já tão soberbamente iluminado céu sanguinolento de África,
E vigia e protege a África.
Voltar pelo ar, sobre o mar, entre nuvens e sol,
Até rever ao longe a silhueta querida de África e todas suas vidas
Sobrevoar como um anjo silencioso que passa
Abençoando a terra querida de África e todas suas vidas.