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Quem pode afirmar o que expressa a China verdadeiramente em seu coração?

E os seus poetas, que almejavam nos dizer

Nos ideogramas de interpretações sutis e polissêmicas,

Pintados com esmero, com escrita de selos, sobre o papel Xuan de sândalo azul?

Jesuítas portugueses tentaram entender, James Legge tentou, Matteo Ricci também,

Mas a China, nas mensagens, na linguagem,

Que solfeja em incomum melodia,

Guarda segredo inatingível, impenetrável ao forasteiro.

O dragão ergueu a cabeça e Xuanyuang nasceu envolto em confidências,

Depois no Monte Tai, entre os ciprestes e pinhais,

Bixia Yuanjun lançou bendições exclusivas para a China em seu idioma hermético,

Enquanto peregrinava pelos cumes cobertos de hortênsias,

Com o santo imperador Dongyue, que também falava a língua dos segredos

E até o sol teria uma sombra de sigilos formada de dragões.

Há, porém uma brecha, uma trilha irremissível, transpondo toda a barreira da língua,

Que leva direto ao peito dos aparentemente insondáveis poetas da China: a humanidade.

Os poetas chineses são homens. Homens de carne, osso e emoções.

A carne geme e se dilacera sob a força da chibata,

O osso se estilhaça sob a violência,

As emoções penetram a alma, fazem chorar com o amor sem retorno,

Tornam melancólico o poeta injustiçado, escorraçado, no desterro,

Quando não mais pode ver a florzinha que cresce no campo vicejante da pátria

Ou a mãe desamparada que diariamente ainda vai trôpega à fonte,

Cozinha e prepara, sozinha e desvalida,

O alimento que, embora escasso e humilde,

Outrora alegrava e nutria todos de casa.

A emoção provoca o desejo de um copo de vinho

Perto do amigo, como antes, nas noites tagarelas,

Quando todos os sonhos e ambições eram confessados e aplaudidos

E o futuro se abria como a manhã radiosa após a noite de lua.

Os poetas da China, como toda a humanidade, vivem de emoções,

Vivem de lembranças da mãe e do pai, do vale distante onde nasceram e viveram,

Onde conheceram, com grande alegria e festa, agitação interior,

O amor pela vez primeira, cheios de perturbação, trêmulos.

Foi no campo, na primavera, envoltos por ramos de orquídeas azuis

Que significam honra, confiança e lealdade,

No grande caminho que se desfraldava, a dois, juntos,

Um cuidando do outro, a se amparar mutuamente,

Cruzando a longa e perigosa caminhada.

Se o Dao fosse totalmente conhecido já não seria mistério,

Já não seria a essência que a todos alenta e acalanta,

E encanta quando se mostra como raios que estalam e fulguram

A partir do campo de papoulas floridas ou do pomar de ameixoeiras.

O Dao é a passagem e o mistério.

Ser místico e piedoso por dentro,

Por fora encontrar a mediana do agir e do não agir, observar

O mundo que passa e acontece, atentamente, em silêncio, a trabalhar.

Deixar caminhar vagarosamente a alma que canta e reverencia o Dao,

Ou os Brahmavihara que inspiram músicas celestiais de grande compaixão

Os patriarcas que entoam um grave canto na Montanha do Leste, no Templo Wuzu,

São todos caminhos que conduzem

Diretamente ao coração da enternecedora poesia chinesa.

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