Esta linda fábula sobre o Tempo está no Mahabharata
Afirma um Sloka, um verso sagrado no Mahabharata,
Que a fama das ações virtuosas praticadas com severidade migra pela terra
E sobe até o céu em esplendor e glória
Levando consigo o bem-aventurado praticante da justiça
Permanecendo este no céu enquanto seu ato digno é lembrado por algum vivente,
Abençoado pela irradiante probidade que ele cultivou
Mesmo que tenham se passado mil anos.
Um dia o rei Indradyumna caiu do céu.
Disseram que ninguém mais se lembrava de suas ações justas.
Ele procurou o Rishi Markandeya e disse: “Tu não me conheces. Existe alguém
Tão idoso que se recorde de mim?”
O Rishi respondeu: “No Himavat mora a coruja Pravarakarna. Ela é a mais longeva”.
Então o rei foi ao Himavat nas alturas, com vento gelado e águas velozes.
Perguntou a Pravarakarna: “Respeitável anciã, tu me conheces?
Lembras-te de minhas feições jovens há milhares de anos, quando, embora poderoso,
Eu praticava a equidade e zelava pelo bem-estar dos vulneráveis e frágeis?”
A idosa coruja olhou-o com atenção e respondeu: “Não te conheço. Pergunta
Ao grou Nadijangha no lago Indradyumna, ele é mais velho que todos nós”.
O rei viajou ao lago em cuja superfície esparramavam-se muitos lótus
E onde soprava aragens com perfume de Kadamas. Perguntou ao grou:
“Tu me conheces, vetusto Senhor, de cãs patriarcais, conheces o rei Indradyumna?”
O grou olhou-o lentamente, com consideração e respeito e respondeu: “Eu não conheço o rei
Indradyumna. Talvez tenha ouvido falar, mas esqueci-me. Pergunta à tartaruga Akupara
Nesse mesmo lago. Ela é a mais ancestral dos seres que por aqui habitam”.
O rei Indradyumna buscou a muito idosa tartaruga Akupara e, ao encontrá-la, perguntou:
“Venerável, tu me conheces? Eu sou o rei Indradyumna e por aqui vivi há milhares de anos”
A anciã refletiu por um instante. Depois seus olhos se turvaram de lágrimas,
Seu coração tornou-se célere pela comoção e quase perdeu os sentidos.
O rei a amparou e ela respondeu: “Como não te conhecer, ó rei, e de ti não me lembrar
Com respeito e admiração? Tua fama se propagava em mil Yojanas, em volutas
Como o Attar de Kunda, porque eras justo. Eu serei tua depoente no céu.
Desculpa, ó rei, se choro, a tua aparição repentina me emociona,
Porque reencontro em ti as recordações mais remotas e queridas.
Hoje, só nós sabemos de nossa juventude, da beleza das noites,
E do fulgor das estrelas de então. Das amizades sinceras.
Só nós ainda lembramos dos nomes e dos rostos, ó rei Indradyumna.
Somente nós nos lembramos daquelas vozes amadas.
Somos as únicas testemunhas sobejas daqueles dias felizes”.