Sobre o Autor
O Autor é um velho que nasceu no Piauí, numa pequena cidade chamada Uruçuí, mas viveu lá apenas um ano. Seus pais o levaram para viver numa pequena vila do Maranhão até os cinco anos, depois, de volta ao Piauí, foi deixado na casa dos avós maternos por um ano e meio, num maravilhoso sítio no município de Ribeiro Gonçalves cheio de água, pântanos e brejos, cacimbas, buritizais, frutas, jumentos, extensos canaviais, engenho de moer cana para fazer rapadura e cachaça, tudo bem próximo do tranquilo Rio Parnaíba. Com sete anos foi trazido para o antigo Norte de Goiás, onde hoje é Tocantins, e viveu em uma pequena cidade de nome Aliança do Norte. Concluiu o ginásio em Gurupi. Em seguida foi para Goiânia, onde fez o colegial e a graduação em Medicina na Universidade Federal. Após isso morou na muito agradável cidade de Belo Horizonte, onde fez especialização em Oftalmologia. Ao findar o curso, após três anos, trabalhou alguns meses no Pará, em Conceição do Araguaia. Daí foi trabalhar em Rondônia, quando a cidade de Rolim de Moura estava iniciando. Em seguida morou um ano e meio em Münster, Alemanha, onde frequentou aulas de latim, grego e filosofia na Universidade. O Autor gostou muito desses estudos em Münster, mas não conseguiu continuar porque não suportou exercer por mais tempo a honrada mas duríssima profissão de faxineiro, que era sua fonte de subsistência. Ao retornar permaneceu por dez anos na cidade de São Paulo, lugar de muitas solidões no meio da multidão.
Concluiu a especialização em Medicina do Trabalho na Universidade de São Paulo, e também nessa universidade iniciou, sem concluir, cursos de Direito e Letras. Em São Paulo entrou no serviço público federal e, em 1999, a pedido, para ficar mais perto de sua família e amigos em Goiânia, foi transferido para Brasília, onde também montou um pequeno consultório popular de oftalmologia na periferia. Nesta cidade está há mais de vinte anos e dela só sairá para a viagem final.
Com tantas idas e vindas o Autor pode confirmar a opinião dos filósofos e escritores: por todos os lugares o sofrimento humano é o mesmo. Alguns fingem ser muito felizes, bem-sucedidos, vitoriosos. Muitos se sentem amados, bem-casados, seguros. Pode ser que existam sortudos. Entretanto, quase todos nós somos apenas peregrinos, solitários, indecisos, empurrados, curiosos, que não sabem como a viagem acabará.
O Autor fazendo pose de James Joyce ou Fernando Pessoa em 1988, Janeiro. São Félix do Araguaia-Mato Grosso
The Author pose James Joyce or Fernando Pessoa in 1988, January. São Félix do Araguaia-Mato Grosso.
O Autor tem uma certa pena da humanidade e do mundo. Não deveria, porque é humilhante para alguém ser objeto de piedade, mas o Autor não consegue refrear a pena que tem dos seus semelhantes e de si mesmo. Pena do sofrimento dos animais também. Não simpatiza com pessoas narcísicas, que se acham melhores que os outros, que estão sempre orgulhosos de suas realizações geniais, olhando para suas pobres emoções e necessidades. O Autor tem muito medo de se tornar narcísico, porque acredita que o narcisismo é uma doença contagiosa que afeta boa parte da humanidade.
O Autor não mostrará sua velhice. Você não verá fotos do Autor já velho. Verá apenas as fotos dele na juventude, ingênuo, idiota, ainda cheio de esperanças. Não confunda isso com narcisismo.
Ao escrever, o Autor quer emocionar e convencer. Por isso, diariamente, tenta incorporar o Daimon do Ion, de Platão, seguir as regras da Poética de Aristóteles, usar muitas palavras gentis como recomenda Horácio e fazer muitos elogios e encômios como Píndaro, para alevantar a alma dos que estão tristes e desalentados.
About the Author
The Author is an old man who was born in Piauí, in a small town called Uruçuí, but lived there only a year. His parents took him to live in a small village of Maranhão until he was five, then, back to Piauí, was left at the maternal grandparents’ house for a year and a half, in a wonderful place in the municipality of Ribeiro Gonçalves full of water, swamps and marsh, cacimbas, buritizais, fruits, donkeys, extended sugarcane fields, cane grinding mill to make rapadura and cachaça, all very close to the quiet Rio Parnaíba. At the age of seven he was brought to the former north of Goiás, where today is Tocantins, and lived in a small town named North Alliance. He concluded the gym in Gurupi. He then went to Goiânia, where he did the high school and the degree in medicine at the Federal University. After that he lived in the very pleasant city of Belo Horizonte, where he specialized in ophthalmology. Upon ending the course, after three years, he worked a few months in Pará, in Conceição do Araguaia. Then he went to work in Rondônia, when the city of Rolim de Moura was starting. He then lived a year and a half in Münster, Germany, where he attended Latin, Greek and Philosophy at University classes. The author enjoyed these studies in Münster, but could not continue because he could not bear the honorable but very tough job as cleaner, which was his subsistence source. Upon returning he remained for ten years in the city of São Paulo, place of great loneliness in the middle of the crowd. He completed the specialization in Occupational Medicine at the University of São Paulo, and also at this university began, without completing, law and letters courses. In São Paulo entered the federal public service and, in 1999, on request, to be closer to his family and friends in Goiânia, was transferred to Brasilia, where he also set up a small popular ophthalmology office on the outskirts. In this city has been for over twenty years and will only go out for the final trip.
With so many comings and goings the Author can confirm the opinion of philosophers and writers: everywhere human suffering is the same. Some pretend to be very happy, successful, victorious. Many feel loved, well-married, safe. Lucky ones can exist. However, almost all of us are just pilgrims, lonely, undecided, pushed, curious, who do not know how the trip will end.
The Author has a certain pity for humanity and the world. It should not, because it is humiliating for someone to be the object of ruth, but the author cannot restrain his pity of his fellow men and himself. He has compassion for the suffering of animals as well. He does not sympathize with narcissistic people, who think it is better than others, who are always proud of their genial achievements, looking at their poor emotions and needs. The Author is very afraid of becoming narcissistic because he believes that narcissism is a contagious disease that affects much of humanity.
The Author will not show his old age. You will not see photos of the already old Author. You will only see his photos in youth, naive, stupid, still full of hope. Do not confuse this with narcissism.
When writing, the Author wants to thrill and convince. Therefore, daily, attempts to incorporate Plato’s Ion Daimon, follow the rules of Aristotle’s poetics, use many kind words as recommended Horace and make many compliments and praises as a Pindar, to raise the soul of those who are sad and discouraged.